Saturday 5 July 2014


Alemanha-França à lupa: Alemanha dominou o corredor central.

Na figura “rede de acções” do Alemanha-França, vemos as acções realizadas com a bola pelos jogadores, tais como passes, lançamentos, cortes de cabeça, cantos, cruzamentos. O tamanho dos nós (jogadores) é definido pelo número de jogadores com que interage cada jogador. A largura das ligações aumenta em função do número de acções realizados entre dois jogadores. Os nós mais amarelos significam menor precisão nas ações, mais vermelho indica maior precisão.



Na rede de ações vemos que os jogadores do meio-campo alemão revelam abundantes ligações, tanto à defesa como ao ataque. Este é um indicador de um tipo de ataque, o ataque organizado, predominantemente utilizado pela Alemanha. Schweinsteiger foi o principal responsável pela construção o ataque alemão. A colocação de Lahm do lado direito fez com que a Alemanha utilizasse muito esse corredor, sendo dele as ligações mais fortes da equipa (com Muller e com Schweinsteiger). Kroos foi menos influente no ataque da Alemanha em comparação com jogos anteriores, possivelmente devido ao meio-campo da França, povoado por 3 jogadores mais defensivos. A defender, a Alemanha jogou com os jogadores do meio-campo próximos dos da defesa, o que impediu a França de jogar pelo corredor central. Esta organização obrigou a França a um jogo direto, o que facilitou a ação de Hummels (autor do único golo aos 13’), jogador responsável por muitas recuperações e cortes de bola, embora a maioria destes cortes tenha sido para fora (ver a precisão na rede de acções). A grande mobilidade da equipa da Alemanha, principalmente no meio-campo, fez com que os seus jogadores ocupassem diferentes posições e partilhacem muitas ligações. Por exemplo, Khedira, Schweinsteiger, Kroos e Muller têm 5 a 7 ligações com jogadores diferentes.
Na rede de acções de França, destaca-se a grande precisão e maior número de passes dos defesas centrais e do defesa direito. Há uma grande influência dos dois defesas laterais na segunda fase de construção do ataque, em que se utiliza os corredores laterais para chegar a sectores mais ofensivos. Algumas das ligações mais fortes são precisamente entre defesas laterais e extremos: Debuchy-Valbuena e Evra-Griezman. Os extremos foram os elementos-chave para chegar ao avançado Benzema, que mostrou uma precisão elevada, quer na entrega em apoio ao médio Matuidi, quer nas situações de finalização na baliza alemã (ver figura de remates). Estas ligações contrastam com a fraca ligação dos elementos do meio-campo ao avançado Benzema. Em termos do meio-campo, destaca-se o posicionamento recuado de Cabaye que se liga num triângulo com os dois centrais na primeira fase de construção do ataque. Cabaye ligou a linha defensiva ao sector do meio campo e ligou os jogadores do meio-campo Pobga-Matuidi, facilitando a circulação de bola entre os dois corredores laterais. Valbuena foi o jogador mais procurado no ataque da França estabelecendo várias ligações, especialmente com Debuchy e Pogba. A circulação da bola da França segue o sentido do corredor direito para o esquerdo.
 
Em termos do número de passes, há uma maior intensidade da Alemanha na 1ª parte e inicio da 2ª, mas nos últimos 30 minutos a França elevou o seu número de interações. 
Se juntarmos esta rede da Alemanha, a outrs 2 jogos anteriores (com Portugal e com o Gana), vemos que as ligações mais fortes estão ao centro entre Lahm, Kros, Schweinsteiger e  Khedira. Sendo os 3 primeiros, jogadores com elevada precisão.

 A dinâmica de cada equipa ao longo do jogo pode ser captada em forma de rede. A rede é constituída por nós (jogadores posicionados aproximadamente como em campo) e ligações (setas) entre os nós. A análise da dinâmica da equipa implica que se incluam os jogadores substituídos (tempo de jogo à frente do nome), por isso mais de 11 jogadores podem fazer parte da rede. Do mesmo modo, jogadores que não tenham feito um mínimo de 3 passes podem não aparecer na rede e deste modo temos as ligações mais estáveis na dinâmica da equipa.

Projecto do Laboratório de Perícia no Desporto da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa em parceria com o Programa Doutoral em Ciências da Complexidade (ISCTE-IUL e FCUL).
Coordenador:
Duarte Araújo (FMH-UL)
Equipa:
Rui Lopes (ISCTE-IUL e IT-IUL)
João Paulo Ramos (ISCTE-IUL e FEFD-ULHT)
José Pedro Silva (FMH-UL)
Carlos Manuel Silva (FMH-UL)

Análise publicada no jornal Público online de 5 de julho de 2014:
http://www.publico.pt/desporto/noticia/alemanhafranca-a-lupa-alemanha-dominou-o-corredor-central-1661775


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