Na rede de ações
Portuguesa vemos que foram essencialmente os defesas laterais que assistiram os
extremos, nomeadamente Coentrão a assistir Ronaldo (31 passes, predominantemente
a meio do campo e portanto sem perigo). No geral, foi muito reduzido o fluxo de
passes dos médios para os atacantes, incluindo Moutinho. Bruno Alves foi o
jogador que mais passes efetuou (109 passes) revelando-se um jogador chave na
fase inicial de construção do ataque de Portugal. Este aspecto pode-se ligar ao
facto de Pepe e Pereira terem sido os jogadores com maior número de passes
errados (28 e 30 respectivamente, ver figura “Passes errados e Perdas de bola” cujas
setas apenas aparecem nos jogadores que realizaram mais de 3 destas ações).
Estes aspectos indiciam uma ação da Alemanha a dificultar a construção do
ataque de Portugal. A Alemanha evidencia mais jogadores com passes mais
precisos, uma ligação mais forte entre defesas centrais, médios centro e extremo
esquerdo, nomeadamente através de Kroos. Muller foi o jogador que mais ligações
teve com jogadores diferentes, o que tornou a dinâmica do ataque da Alemanha
mais imprevisível. Portugal tem muitas ligações fortes no sentido da própria
baliza ou perpendicular ao sentido do ataque (Coentrão-Alves, Veloso-Coentrão,
Moutinho-Pereira, Alves-Pepe, Nani-Moutinho) ao contrário da Alemanha que
apresenta as suas ligações mais fortes no sentido do ataque. João Pereira e
Miguel Veloso foram os jogadores que mais vezes perderam a bola para os
Alemães.
A Alemanha tem uma densidade da rede de ações menor que a Portuguesa (0,665
e 0,697 respectivamente), mostrando ter realizado mais interações entre todos
os jogadores. Todavia, uma vez que a rede de ações de Portugal se encontra
pouco conectada entre os médios e os atacantes, e Portugal revelou mais perdas
de bola e passes falhados que a Alemanha, isto revela uma dinâmica colectiva
pouco eficaz. Por outro lado a Alemanha apresenta um padrão mais flexível, com
trocas posicionais e linhas de passe menos previsíveis, passes mais precisos e com
ações localizadas mais ao centro.
Em termos gerais
podemos ver que a intensidade de passes com sucesso ao longo do jogo foi
superior na Alemanha, sobretudo no segundo tempo, onde marcou um golo aos 78’.
Na primeira parte, a maior intensidade de passes oscilou entre Portugal e
Alemanha, tendo Portugal sofrido 3 golos aos minutos 12, 32 e 45+1.
Projecto
do Laboratório de Perícia no Desporto da Faculdade de Motricidade Humana da
Universidade de Lisboa em parceria com o Programa Doutoral em Ciências da
Complexidade (ISCTE-IUL e FCUL).
Coordenador:
Duarte Araújo (FMH-UL)
Equipa:
Rui Lopes
(ISCTE-IUL e IT-IUL)
João Paulo Ramos
(ISCTE-IUL)
José Pedro Silva
(FMH-UL)
5 comments:
Gostei da análise, só considero que seja relevante dividir o mapa de interações em diferentes períodos, relativos ao período entre substituições uma vez que a entrada de um jogador pode alterar a dinâmica da equipa e se estiverem todos os jogadores utilizados na rede, essa alteração da dinâmica pode ficar camuflada.
Gostava também de vos perguntar se as posições dos jogadores nessa rede é o resultado da média de ocupação dos jogadores no campo ou apenas uma representação para efeitos de melhor compreensão do gráfico? Porque essa ocupação média poderá ser relevante, seguindo a linha do que escrevi no primeiro parágrafo.
Bom trabalho e um abraço.
Boa noite.
Aproveito o ensejo para congratular a equipa pela excelente análise. Os factos estão à vista e o resultado do jogo foi, infelizmente, pesado para a nossa seleção.
Sabemos que as dinâmicas coletivas são influenciadas por inúmeros fatores contextuais. Do ponto de vista científico, seria extremamente interessante (e penso que isso ainda não foi estudado a este nível de análise) perceber de que forma as ligações entre os elementos da equipa (qualitativa e quantitativamente) podem ser afetadas por variáveis como o resultado corrente do jogo, o local do jogo (casa vs. fora) ou, por exemplo, a qualidade da oposição.
Não passa de uma mera sugestão... :)
Mais uma vez: parabéns pelo excelente trabalho.
Cumprimentos,
CA
Parabéns, é o primeiro trabalho deste tipo que vejo efetuado por Portugueses. Não faço questão de ver publicado o meu comentário, queria apenas mostrar-vos outras perspetivas para melhorar o bom trabalho que fizeram.
Acredito que utilizaram para efetuar o trabalho dados FIFA - http://resources.fifa.com/mm/document/tournament/competition/02/37/37/74/eng_13_0616_ger-por_passingdistribution_neutral.pdf
Penso que a apresentação pode ser menos confusa para os leitores e na minha opinião mais objectiva se centrarem os dados na influencia de cada jogador em campo e no posicionamento médio de cada jogador (que em simultâneo gera um mais exato esquema tático). São fatores mais valorizados e de mais fácil compreensão pelo comum adepto, o que penso trará mais valia e reconhecimento ao vosso trabalho.
Aqui fica o exemplo:
https://docs.google.com/file/d/0B_WwLcfGuwxdZEhVVUpWNW5ZNkE/edit
Parabéns novamente.
Agradeço os comentários e as reflexões que estes despoletam.
Telmo e Carlos, temos as redes antes e depois de cada golo, antes e depois de cada substituição. Esse material será publicado. Mas dada a celeridade em apresentar as análises mais importantes (O Jornal Público publica-as logo no dia a seguir ao jogo), e as limitações de espaço destes meios de comunicação, não avançámos pela sua pertinente sugestão. Temos formas de captar o "locus" das movimentações do jogador em campo, mas também por questões de tempo não o analisámos. Neste momento, usamos uma aproximação ao sistema de jogo que constatamos no próprio jogo. A dinâmica que aqui apresentamos é claramente resultante da qualidade da oposição. No próximo jogo a dinâmica será necessariamente outra. Os jogos do Mundial são todos fora, excepto para o Brasil!
Sobre a relação entre dinâmica da equipa e golos remeto para um nosso comentário que está publicado na página desta notícia no Público online. Todos os dados são nossos de modo a que possamos saber exactamente quando ocorreu cada evento (p.ex., figura 3), e de modo a sabermos exactamente a fiabilidade destes dados. Excelentes sugestões. Obrigado!
Caro professor,
Quando referi utilizar o local do jogo como variável independente (casa vs. fora; neste caso: neutro, exceto Brasil), eu remeti essa sugestão para um outro estudo a realizar com outra amostra (e.g., jogos da UEFA Champions League).
O potencial das vossas variáveis dependentes é imenso. Estarei atento a novos desenvolvimentos.
Grato pelos esclarecimentos.
Cumprimentos,
Carlos H. Almeida
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